terça-feira, 15 de abril de 2014

"Não faz sentido aposentar-me!"

 
 
Faz alguns dias que Paul McCartney está em Los Angeles ensaiando com a banda que o acompanha em suas turnês. Seu próximo destino é a América do Sul, trecho que inclui duas datas em Santiago, nos dias 21 e 22 de abril, na Movistar Arena, e enquanto viaja em um carro pela cidade californiana concede um tempo para conversar sobre seu momento musical, que aos 71 anos o mantém tão ativo como em sua melhor época com os Beatles, só que agora não precisa compartilhar os créditos com ninguém mais.
 
“As coisas vão estupendamente bem, estamos passando por um bom momento, a banda toca bem, o clima é bom…”, diz o músico com voz relaxada. Que motivos teria o baixista para se preocupar? Tem a melhor banda, o melhor repertório, o melhor som, inclusive o melhor empresário. Scott Rodger, o representante que divide com a banda Arcade Fire, foi eleito como Empresário do Ano pelo Artist & Manager Awards 2014. “É muito bom, um grande cara, eu o ensinei tudo que ele sabe (risos)... não, na realidade é um cara genial, é muito trabalhador, definitivamente merece esse reconhecimento”, diz McCartney com humor.
 
 A esta altura de sua vida e de sua carreira nada parece surpreendê-lo. Quando fala sobre os Beatles soa como um discurso aprendido de memória; em contrapartida, falar sobre ter sido surpreendido em uma partida de basquete da NBA junto com sua esposa Nancy (52) e seu filho James (36), devolve ânimo àquele tom um pouco displicente. “Sim! Essas são coisas que fazemos em família, ir a jogos. Claro, as câmeras me seguem, mas não quero estar no meio do público com óculos escuros e um gorro fazendo de conta que não estou lá, vou me divertir e quando vejo as câmeras me focalizando isso não me importa. Creio que muita gente apenas pensa ‘é um cara legal que se diverte’”, comenta.
 Isso porque no domingo passado o ex-beatle foi visto entre o público da partida entre Clippers e Lakers. Mas além de ter sido flagrado pelas câmeras torcendo, aplaudindo e conversando, foi a famosa kiss-cam que o localizou, obrigando-o a beijar sua mulher na frente de todo o público, o que ele atendeu com a doçura de um menino apaixonado.
 
 Pode desfrutar de uma vida normal com essa fama sobre os ombros?
“Sim, ainda que não possa ser tão normal porque o tempo todo há câmeras sobre mim. Uma alternativa é fingir que não estou contente, mas estou contente, então ajo naturalmente e quando nos colocaram na kiss-cam e nos beijamos foi muito divertido. A única diferença para mim é que tudo seria comum se não me colocassem na TV, de outra forma seríamos minha esposa e eu como pessoas normais. Já sei que isso vai acontecer se saio para ver uma partida, então apenas me divirto”.
 
McCartney no século XXI
 
 Sem dúvida o baixista de uma das bandas mais populares de todos os tempos tem conseguido manter uma força que poucos podem se orgulhar. Desde sua época dourada junto com o quarteto de Liverpool, este marcante compositor de melodias populares começou sua carreira solo há não menos do que 40 anos. Também seu show ao vivo apresenta uma maturidade e uma qualidade reconhecida hoje no mundo inteiro. Não é coincidência que desde sua estreia tardia no Chile em 1993 teve a oportunidade de voltar ao país duas vezes em menos de três anos. Agora inclusive com dois concertos consecutivos em Santiago. “Antes era mais difícil tocar na América do Sul porque as pessoas tinham mais preocupações. Mas hoje em dia os promotores estão mais felizes para trazer gente a países como Chile, porque está muito melhor, então abri um espaço pra ir, porque o público é genial”, explica McCartney, que dessa vez chega com a turnê Out There, recriando seus maiores sucessos. Diferente de sua última visita ao país, em 2011, traz dois novos discos de estúdio na bagagem: “Kisses on the bottom” (2012) e “NEW” (2013).
Outra frente que McCartney não havia explorado desde pouco tempo era a dos festivais musicais de massa, um aspecto que deu uma cara nova a esse veterano da indústria.
 

 
 Acredita que suas participações em festivais como Coachella e Bonnaroo o aproximaram de um público mais jovem?
“Sim, no passado nunca pensei em festivais porque não estava seguro que seríamos a banda adequada para tocar neles. Mas como você diz, tocamos no Coachella, Bonnaroo e Glastonbury, e é um grande público basicamente de jovens, mas quando vemos o público do Chile, muitos também são jovens. É surpreendente que tenha gente tão jovem assistindo nossos shows e é bom que as gerações novas estejam lá”.
 
Acredita que apostar num som mais contemporâneo tem feito diferença para chegar às novas gerações?
“Sim, creio que é sempre bom ter um álbum novo para tocar novas músicas no show e essa foi a ideia. É genial porque tem sido um sucesso e muita gente tem escutado. Os produtores com os quais trabalhei também tem gravado com bandas mais jovens e isso traz sons novos que fazem sucesso, que tocam muito nas rádios; é exatamente o que queríamos”.
 
Sobre o aniversário de 50 anos da beatlemania, existem novos planos que incluam Ringo Starr?
“Não, já fizemos isso em Los Angeles para o Grammy, tocamos juntos, e na noite seguinte tivemos um discreto tributo na TV, onde tocamos novamente. Fora isso, não temos planos. Cada um está por sua conta”.
 
Olhando pra trás, o que os Beatles fizeram de mais importante?
“Fazer boa música e liberdade. Creio que para muita gente a que chegamos parecia que não era permitido ter liberdade e então olharam para os Beatles e disseram ‘podemos ter essa liberdade’. Porque éramos um grupo muito livre, isso era muito importante pra nós na música e no nosso estilo de vida. Nos Estados Unidos, quando nos apresentamos no programa de Ed Sullivan pela primeira vez, conheci gente que me disse ‘sim, era criança, estava vendo TV e não sabíamos o que era aquilo, não podíamos acreditar’. E muitos deles decidiram seguir esse caminho e se converteram em músicos ou empresários porque queriam ser parte deste sentimento. Mas acima de tudo estava a música”.
 
Compararia os Beatles com algum músico de hoje?
“Com nenhum. É difícil compará-los com os grupos que temos atualmente e é muito difícil para qualquer um comparar-se com os Beatles porque foram algo muito especial. Mesmo que hoje tenhamos grandes músicos, como U2, Coldplay e Kings of Leon, não é fácil fazer uma comparação porque nós tivemos bons tempos e bons discos. Na época em que tudo aconteceu tivemos um efeito muito grande, eram tempos muito diferentes e custa ter esse efeito hoje em dia”.
 
Alguma vez se cansa de seu trabalho?
“Não. Às vezes é normal se sentir cansado do trabalho, fisicamente, mas amo o que faço e tenho muita sorte, nem todos tem a oportunidade de ter um trabalho que apreciem, que te leve a lugares diferentes. Para muita gente seriam as férias dos sonhos. Tenho uma grande banda, amamos a música que tocamos e amamos o público. E tenho muita sorte porque o público nos ama, então temos o pacote completo”.
 
Então pensar em aposentadoria não está nos seus planos?
“Enquanto se sente bem, enquanto o público continua pedindo, a música segue tocando. Por enquanto temos tudo que precisamos, uma boa banda, uma grande família, boa música, excelente canções, fazemos o que amamos, amo tocar instrumento e isso me é possível, e ainda que me aposentasse continuaria fazendo isso como um hobby. Não faz sentido aposentar-me. E além disso tenho apenas 45 anos! (risos)”.
 

 
Seus passos pelo Chile
 
 Em 13 de dezembro de 1993 Paul McCartney aterrizou no Chile pela primeira vez em sua carreira para oferecer um concerto no Estádio Nacional. “The new world tour” era a turnê que o levava a estrear em Santiago em 16 de dezembro, com entradas que custavam entre 8 e 20 mil pesos. Mais tarde sairia uma promoção pouco antes do dia do show com a intenção de vender mais ingressos, que permitia adquirí-los por apenas 5 mil pesos mais três tampas de cerveja Cristal, marca patrocinadora do evento na época.

 Foi preciso que 17 anos passassem para que o ex-beatle voltasse ao país. 11 de maio de 2011 foi a data marcada para seu retorno, ocasião na qual promoveu um show lotado no Estádio Nacional con a “Up and coming tour”. Desta vez, somente no primeiro dia foram vendidas 19 mil entradas, pouco menos da metade da lotação. Naquela ocasião o show teve de tudo: pirotecnia, telões de 18 metros e homenagens a seus ex-companheiros beatles falecidos.

 Agora, em sua terceira visita, oferecerá dois concertos consecutivos na Movistar Arena, dias 21 e 22 de abril, para os quais restam menos de mil ingressos para cada dia.
 
Fonte: El Mercurio
Tradução: Bruno Bazzoli (Via Paul Get Back To SP)

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