sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Há 45 anos, o álbum 'Abbey Road' era lançado!


Em 1969, os Beatles iniciam novamente a produção de um novo disco. O projeto tinha a idéia de levar a banda de volta às suas origens, com gravações mais simples, sem grandes arranjos ou efeitos de estúdio. Além disso, os ensaios seriam filmados para a realização de um filme, mostrando toda a produção de um disco dos Beatles.

A princípio, o disco se chamaria “Get Back”, em referência à “volta” às origens do rock and roll e também ao título de uma das canções. Nessa época, a banda estava sem empresário fixo e eles mesmos gerenciavam a empresa Apple e suas sub-empresas. Este excesso de responsabilidade, aliado ao cansaço e aos problemas de anos de convivência, mais a pressão de um novo disco, fizeram o projeto ser abandonado, sendo lançado apenas no ano seguinte, com outro título, como veremos na próxima matéria da nossa coluna.

Alguns meses após o engavetamento do projeto, os Beatles voltam aos estúdios da gravadora EMI, para a produção um novo disco. Mesmo sem a menor disposição entre eles, todo o projeto foi muito bem elaborado, resultando em um dos mais belos discos da história. Chamado por alguns de “O canto do cisne”, o álbum mostra a dor e o alívio da separação do grupo, mas também algumas das mais lindas composições da maior banda de todos os tempos.


Após a traumática experiência das sessões de Let it Be / Get Back, que resultou somente em perda de tempo e de dinheiro, os Beatles abandonaram o projeto em uma gaveta qualquer da Apple e desistiram da idéia. A amizade do grupo estava muito abalada devido às constantes discussões e pelos problemas enfrentados na empresa. Paul McCartney queria que o advogado Lee Eastman, pai de Linda, fosse o novo empresário do grupo. Mas os outros três achavam que isso favoreceria Paul e suas decisões. John queria chamar Allen Klein para empresariar os Beatles. George e Ringo concordaram, mas Paul foi contra. Isso gerou ainda mais conflito entre eles, resultando em um processo por parte de Paul, contra os Beatles e Klein, nos anos 70.


Após a histórica apresentação dos Beatles no telhado da Apple, em 30 de janeiro de 1969, os Beatles abandonaram seus projetos e cada um seguiu para um lado, tentando esquecer os problemas e as mágoas da banda. Até que Paul McCartney entra em contato com George Martin, sugerindo que a banda voltasse aos estúdios da EMI, como nos velhos tempos. O produtor aceitou desde que tudo fosse levado a sério e que todos se empenhassem em produzir um ótimo disco, como sempre haviam feito. Os outros Beatles também concordaram em esquecer as divergências em prol de um trabalho coletivo; porém logo no início do projeto, Lennon e McCartney não entram em um acordo sobre a produção do álbum. John queria um disco simples de rock and roll, sem overdubs ou efeitos. Paul McCartney defendia a idéia de uma produção mais elaborada, com orquestras e tudo que os estúdios disponibilizavam. A solução foi dividir o álbum em duas partes: O lado A seria como John queria e o lado B seria segundo a vontade de Paul.


Durante as sessões de gravação, dificilmente os quatro Beatles estiveram juntos em estúdio. Ainda assim, o disco nos dá a sensação de que os problemas entre eles haviam sido esquecidos e só a música importava. Novos instrumentos foram acrescentados às gravações, como o Moog, um sintetizador que permitia a criação de vários timbres e que fez parte de algumas canções do disco. Além disso, George Harrison se consagra como compositor, em verdadeiras obras primas que contribuíram para o enriquecimento do álbum.


O LP trazia 17 faixas, sendo que o lado A tinha o final bruscamente interrompido na canção “I want you (she’s so heavy)”. O corte proposital é pra dar uma sensação de vácuo, após a euforia do final da canção. O lado B é aberto por “Here Comes the Sun”, a belíssima canção de George que mostra esperança no futuro. Em seguida, “Because”, composição de Lennon que emociona pelos vocais de Paul, John e George. A partir daí, um grande medley de canções não concluídas de John e Paul são perfeitamente “costuradas” em um belíssimo arranjo de George Martin. O disco que era pra terminar com o solo de bateria de Ringo, seguido pelo trio de guitarras em “The End”, ainda nos presenteia com a doce “Her Majesty”, gravada apenas por Paul McCartney no violão e voz.

O esforço do grupo em manter o clima de harmonia resultou em um álbum cuidadosamente elaborado, que nos emociona da primeira à ultima faixa.

Come Together – (Lennon/McCartney)
Gravação: 21, 22, 23, 25, 29 e 30 de julho de 1969

Composição de Lennon a pedido de Timothy Leary, que era candidato a governador da Califórnia. A canção acabou não sendo usada na campanha, mas entrou para o disco. Paul McCartney reprovava o “Shoot me”, dito por John entre as estrofes da canção. Por isso criou uma linha de baixo mais pesada, com a intenção de abafar o que Lennon dizia. Alguns anos mais tarde, Lennon admitiu que a canção foi inspirada em “You Can’t Catch Me”, de Chuck Berry e foi processado por plágio, mas a ação terminou em acordo. George Martin chegou a dizer que esta é sua canção favorita dos Beatles.

Something – (Harrison)
Gravação: 02 e 05 de maio, 11 e 16 de julho e15 de agosto de 1969

A composição mais famosa de George Harrison, escrita para sua esposa, Pattie Boyd, é considerada uma das mais belas canções dos Beatles. Frank Sinatra, que regravou “Something”, disse que se tratava de uma das maiores canções de amor. Mas em entrevista, atribuiu a composição a Lennon & McCartney. Inicialmente, a música foi oferecida a Joe Cocker, mas George voltou atrás e decidiu gravá-la. John Lennon sempre disse que era a melhor canção do disco.

Maxwell’s Silver Hammer – (Lennon/McCartney)
Gravação: 09, 10 e 11 de julho e 06 de agosto de 1969

Composição de Paul, que apostava no sucesso da canção. Fato que não ocorreu. As sessões de gravação dessa música duraram três dias e irritaram John, George e Ringo, que não aguentavam mais repetir a música, até ficar do gosto de Paul.

Oh! Darling – (Lennon/McCartney)
Gravação: 20 e 26 de abril, 17, 18, 22 e 23 de julho, 08 e 11 de agosto de 1969

Composição de Paul, que mostra o poder de seu vocal. Para conseguir cantá-la por completo com sua voz rasgada, Paul gravou a canção em várias partes separadas em dias diferentes, para não ficar sem voz. John Lennon chegou a dizer que gostaria de ter participado do vocal, mas como a relação entre eles não andava bem, esperava que Paul o convidasse, o que não aconteceu.

Octupus’s Garden – (Starkey)
Gravação: 26 e 29 de abril, 17 e 18 de julho de 1969

Segunda composição de Ringo para a banda (a primeira foi “Don’t Pass Me By”, do White Album). A inspiração veio de uma viagem à ilha de Sardenha, onde a guia turística falava sobre a vida marinha, comentando que os polvos se protegem com pedras coloridas em frente às suas tocas, criando uma espécie de jardim, o “Jardim dos Polvos”. George Harrison ajudou Ringo na composição, como podemos ver no filme “Let it Be”; porém seu nome não é creditado à canção.

I Want You (She’s So Heavy) – (Lennon/McCartney)
Gravação: 22 e 23 de fevereiro, 18 e 20 de abril, 08, 11 e 20 de agosto de 1969

O último encontro dos Beatles em um estúdio de gravação. Belíssima composição de Lennon que na verdade, juntou duas músicas suas que estavam inacabadas, criando uma só. O ritmo forte que aos poucos se transforma em fúria, vai sendo repetido até o final e se misturando até ser propositalmente cortado, dando a sensação de vácuo depois de toda a euforia e finalizando o primeiro lado do disco. Na versão em CD, o efeito é outro: A canção vai crescendo, dando a impressão de desespero, de excitação, até que vem o vácuo inesperado e em seguida surge a calmaria, representada na introdução de “Here Comes the Sun”.

Here Comes the Sun – (Harrison)
Gravação: 07, 08 e 16 de julho, 06, 11, 15 e 19 de agosto de 1969

Outra grande canção de George que foi muito regravada ao longo dos anos. Composta ao amanhecer, no jardim da casa de Eric Clapton. George se sentia aliviado e com esperanças em um futuro melhor, após tantos problemas com os Beatles e com a Apple. Assim como em “I Want You (She’s So Heavy)”, foi usado o sintetizador moog, que ainda era uma novidade na época. John não participou das sessões de gravação, porque estava se recuperando de um acidente de carro. O riff de violão foi inspirado em “If I Needed Someone”, composição de George para o disco “Rubber Soul”.

Because – (Lennon/McCartney)
Gravação: 01, 04 e 05 de agosto de 1969

Composição de John Lennon, que ao ouvir Yoko tocar “Moonlight Sonata”, de Beethoven, pediu que ela tocasse a partitura ao contrário. A melodia da canção, tocada de trás para frente, serviu de inspiração para esta composição. O moog também foi usado na gravação. John, Paul e George gravaram os vocais que foram triplicados, totalizando 9 vozes. No disco “Anthology 3” é possível ouvir somente a gravação das vozes. No disco “Love”, da trilha sonora do “Cirque du Soleil”, também foi incluída a versão somente com os vocais.

You Never Give Me Your Money – (Lennon/McCartney)
Gravação: 06 de maio, 01, 11, 15, 30 e 31 de julho e 05 de agosto de 1969

Primeira canção do grande medley do disco. Na verdade, esta faixa junta 3 pequenos pedaços de canções inacabadas, compostas por Paul McCartney. A primeira parte mostra a insatisfação de Paul com Allen Klein, que os outros Beatles haviam contratado para gerenciar os negócios da Apple. A segunda parte mostra a falta de perspectiva de um desempregado, fora da escola e sem dinheiro, mas com o “sentimento mágico” (“magic feeling”) da falta de obrigações. Em seguida, “um sonho doce” (“one sweet dream”) e a volta da esperança e da perspectiva no futuro. A canção termina com sons de grilo que permanecem até o início de “Sun King”.

Sun King – (Lennon/McCartney)
Gravação: 24, 25 e 29 de julho de 1969

Composta por John com o título original de “Here Comes the Sun King”. Mas para evitar confusões entre esta e a canção de George Harrison, o título foi alterado. De qualquer forma, a canção mostra que todos eles estavam muito otimistas com o futuro. No final, há uma mistura de palavras em inglês, italiano e espanhol, que na verdade não dizem nada. A guitarra de George foi inspirada na canção “Albatross” do grupo Fleetwood Mac. Embora o resultado não tenha sido tão parecido, a inspiração veio desta canção.

Mean Mr. Mustard – (Lennon/McCartney)
Gravação: 24, 25 e 29 de julho de 1969

Composta por John durante a viagem à Índia, esta canção fez parte das primeiras gravações demo do que seria o “White Álbum”, mas logo foi abandonada. A letra é real e fala de um homem que escondia todo seu dinheiro, para que ninguém o fizesse gastá-lo. Ouvindo a gravação demo feita na casa de George Harrison em 1968, é possível perceber que a irmã de Mustard se chamava Shirley; mas para a gravação do disco, John mudou o nome para Pam, associando à próxima canção, “Polythene Pam”.

Polythene Pam – (Lennon/McCartney)
Gravação: 25 e 28 de julho de 1969

Paul conta que John compôs esta canção depois de uma festa, onde conheceu uma garota. Quando ele foi para o quarto, a garota o esperava deitada, vestindo uma roupa de polietileno. John conta outra história. Diz que encontrou Royston Ellis, amigo de Liverpool, e sua namorada, que vestia roupas de polietileno. E há ainda a história de um sujeito chamado Pat Hodgett, freqüentador do Cavern Club, que costumava comer polietileno. As pessoas o chamavam de Polythene Pat. Difícil saber qual das versões é a verdadeira.

She Came In Through the Bathroom Window – (Lennon/McCartney)
Gravação: 25 e 28 de julho de 1969

Lenda 1 sobre a composição: Paul compôs a canção após ouvir do músico Ray Thomas, da banda The Moody Blues, que uma groupie havia invadido seu quarto, entrando pela janela do banheiro.
Lenda 2: Uma fã conseguiu entrar na casa de Paul McCartney pela janela do banheiro.  Qual das duas versões é a verdadeira? Boa pergunta…

Paul toca guitarra na gravação e George toca contra-baixo. Foram 39 takes para a gravação das guitarras e bateria e praticamente 2 dias para concluírem a canção que encerra a primeira parte do medley.

Golden Slumbers – (Lennon/McCartney)
Gravação: 02, 03, 04, 30 e 31 de julho e 15 de agosto de 1969

Paul compôs a canção após encontrar uma partitura antiga na casa de seu pai. Como não lia música, decidiu criar sua própria melodia para a canção. A letra sofreu alterações, mas a idéia principal era a mesma da partitura encontrada. A canção de letra doce e melodia tranqüila contrasta com a seguinte, “Carry That Weight”.

Carry That Weight – (Lennon/McCartney)
Gravação: 02, 03, 04, 30 e 31 de julho e 15 de agosto de 1969

Na continuação do medley, Paul novamente manda um recado aos Beatles e a Allen Klein: “Rapaz, você vai carregar esse peso por um longo tempo”. No final, a continuação de “You Never Give Me Your Money”, comprovando que a letra era dirigida a Allen Klein.

The End – (Lennon/McCartney)
Gravação: 23 de julho, 05, 07, 08, 15 e 18 de agosto de 1969

A canção de Paul McCartney que encerra o medley encerra também a carreira dos Beatles. Era “o fim” da história construída por quatro rapazes que conquistaram o mundo e cresceram mais que seus projetos. Ringo toca o único solo de bateria de toda sua carreira e Paul, George e John dividem os solos de guitarra. A canção é concluída com a magnífica frase de Paul que soa como o último recado dos Beatles para o mundo: “And in the end, the love you take is equal to the love you make”.

Her Majesty – (Lennon/McCartney)
Gravação: 02 de julho de 1969

Originalmente, a canção de Paul McCartney entraria no disco, entre as canções “Mean Mr. Mustard” e “Polythene Pam”. Alguns bootlegs até apresentam o medley desta forma. Mas acabaram decidindo que a canção ficaria ali escondida, após 14 segundos do final de “The End”. A capa da primeira edição do disco não trazia o título da canção, por isso era como uma surpresa, surgindo após a última faixa, quando todos pensavam que o disco já tinha terminado.


O disco foi lançado na Inglaterra em 26 de setembro de 1969 e uma semana depois já era primeiro lugar em vendas, permanecendo por 18 semanas. Até hoje o disco é o mais vendido do grupo e considerado um dos discos mais importantes do século XX, constando em todas as listas de melhores álbuns e vencedor de diversos prêmios, inclusive o Grammy.


A princípio, o título do disco seria Everest, em referência à marca de cigarros que o engenheiro de som Geoff Emerick fumava. O grupo chegou a cogitar a idéia de uma viagem ao Everest para a sessão de fotos. Por fim, a sugestão acatada foi de irem até o lado de fora dos estúdios para uma sessão de fotos mais simples, da banda atravessando a faixa de pedestres e chamando assim, o disco de Abbey Road, em homenagem aos estúdios que leva o nome da rua onde é localizado. A foto da capa, feita por Iain Macmillan, em uma sessão rápida e produzida quase sem pretensão, é talvez a mais imitada da história e ainda hoje, fãs do mundo inteiro vão diariamente à Abbey Road, conhecer e fotografar o local onde os Beatles pousaram para a capa do disco. Recentemente a EMI anunciou a venda dos estúdios, mas após a manifestação de fãs de diversos países, a gravadora voltou atrás em sua decisão; para alívio de beatlemaníacos de todo o mundo, que veneram o local.


Após a produção de Abbey Road, os Beatles nunca mais se reuniram em sua formação completa. Com projetos diferentes, cada um seguiu sua carreira da maneira que lhe agradava e embora não fosse anunciado, a banda já estava separada.

Abbey Road é, sem nenhuma dúvida, uma prova de amor da banda para todos os fãs. A frase final de “The End” resume tudo: E no final das contas, o amor que você recebe é igual ao amor que você dá.

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