sábado, 21 de abril de 2012

Os Beatles e a paixão secreta por futebol


Futebol e rock, uma simbiose puramente inglesa. Destrinchar os Beatles neste assunto resulta em uma trilha de inúmeras notas e interpretações.
O ponto de partida é a dupla apresentação de Paul McCartney no Recife, a primeira delas hoje, cinco meses após o show de Ringo Starr na capital pernambucana. Astros remanescentes da maior banda de todos os tempos. Considerando o quarteto, com John Lennon e George Harrison, qual seria a relação dos meninos de Liverpool com o futebol? O show business deixou espaço para isso? Até hoje, a resposta é cercada de incertezas, mesmo com a cidade natal da turma do ié-ié-ié sendo uma das mais tradicionais no esporte em toda a terra da Rainha.
Entre 1960 e 1970, período de ouro do Fab Four, os dois clubes da cidade, Liverpool e Everton, conquistaram quatro títulos nacionais, em uma época de domínio esportivo e cultural. De acordo com o jornal Liverpool Daily Post, Paul McCartney sempre se mostrou bem reservado sobre o assunto, mas teria sido “flagrado” na multidão do Everton em 1968, no estádio de Wembley, em plena final da tradicional Copa da Inglaterra. O time azul acabou derrotado pelo West Bromwich Albion por 1 a 0. Há pouco tempo, Sir Paul revelou, admitindo ir contra as “regras” das arquibancadas, que gostava tanto do Everton, por causa dos seus pais, quanto do Liverpool, devido ao tom vermelho.
“Eu gostava de futebol na rua, mas pelo pouco tempo que joguei ficou claro que eu não era muito bom. Gosto de assistir às partidas de futebol na televisão e vou ocasionalmente para algum jogo”, admitiu ao Daily Post, evitando qualquer rusga entre os fanáticos de Everton e Liverpool, que inclusive disputaram este ano a semifinal da Copa da Inglaterra, com vitória vermelha por 2 a 1. Um Paul político.
Também é curiosa a linha futebolística de Ringo, que torce pelo londrino Arsenal por causa do padrasto, natural da capital inglesa. Apesar disso, ele também tem simpatia pelo Liverpool. Os seus filhos sempre vão a todos os jogos dos Reds. Já George e John não eram muito ligados em futebol. O filho de George Harrison, falecido em 2001, é fã do Liverpool, na única dica sobre o pai famoso. Lennon e o futebol seguem como um mistério, tudo por causa de um desenho do gênio, aos 11 anos.


A imagem foi utilizada em 1974 no álbum solo do cantor, Walls and Bridges. Era um retrato de Arsenal x Newcastle, sobre a final da Copa da Inglaterra de 1952. O desenho foi feito um mês após a partida, vencida pelo Newcastle por 1 a 0. O tal jogador com a camisa alvinegra de número 9 – o número preferido de Lennon, citado em várias canções – é Jackie Milburn, autor de 177 gols pelo Newcastle entre 1943 e 1957. Lennon, morto há 31 anos, jamais falou sobre a preferência, entre Arsenal ou Newcastle, apesar da obviedade da pintura. Portanto, eis os supostos uniformes beatlemaníacos: Liverpool, Everton, Newcastle e Arsenal. Apesar da rivalidade entre os quatro times, o mesmo não ocorria nos Beatles, em relação ao esporte bretão. O forte, em todos os aspectos, era mesmo a música.

Desencontro dos reis

A banda estava no auge, em 1966, quando tentou visitar um tal de Pelé na concentração da Seleção, então bicampeã, no Mundial da Inglaterra. O Brasil estava justamente em Liverpool. Mas não é que os relatos dão conta de que o chefe da delegação brasileira vetou os Beatles? O cidadão, Carlos Nascimento, teria dito ao empresário da banda: “Isso aqui é futebol, não uma festa”. Lenda? O Rei confirma a história até hoje. Naquele mesmo ano, o futebol “quase” fez o quarteto aumentar. No caso, o não menos carismático George Best, craque do Manchester United, também numa era de sucesso.
A cada passo do boêmio, a mesma histeria coletiva. A imprensa inglesa, agitada desde sempre, acabou dando o apelido de “O Quinto Beatle” ao norte-irlandês, após os três gols marcados no 5 a 1 sobre o Benfica, na Copa dos Campeões da Europa. Haja popularidade. Por mais que os Beatles tenham uma relação discreta com o futebol, fica claro o convite à banda para um show a cada arquibancada lotada, como em 1964, durante a conquista do título nacional do Liverpool após dezessete anos de jejum. A torcida, enlouquecida com o 5 a 0 sobre o Arsenal, cantou “She Loves You”, ecoando em todo o estádio Anfield. O convite não ocorre só em Liverpool. O Arruda e o Ressacada que o digam.



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