Há pelo menos uma semana, uma das salas do centro administrativo do Santa Cruz Futebol Clube, no bairro do Arruda, Zona Norte do Recife, deixou de ser apenas mais uma sala tricolor. O ambiente já respira o clima do que promete ser o maior espetáculo musical já visto no Norte/Nordeste, marcado para o próximo dia 21 de abril. Nesse sábado, Paul McCartney faz o primeiro (e espera-se que não seja o último) show dele fora do eixo Sul-Sudeste.
No final de um corredor escuro, a sala está abrigando os primeiros produtores envolvidos diretamente com o evento. Um deles é um homem discreto, não passa de 1,65m, mas considerado um gigante quando se fala em grandes apresentações internacionais no Brasil. Francisco Dourado já está acostumado a trabalhar com celebridades do quilate de sir James Paul McCartney há 32 anos. Ele é o diretor geral de produção e logística de todas as apresentações de Paul desde os anos 90. Na pequena salinha do Arrudão, a máquina já começou a girar as engrenagens.
Pelas mãos de Dourado e de sua equipe, a Planmusic, de Luiz Oscar Niemeyer, detentor dos direitos dos shows de Paul no Brasil, já passaram dezenas de artistas. Durante a conversa com a reportagem do G1, no estádio José do Rêgo Maciel vazio, ele listou alguns desses astros. "Trabalhamos com Rolling Stones e U2, entre as grandes atrações", lembra Francisco Dourado. Quando Paul colocar os pés no palco gigantesco que vai ser montado para a apresentação da turnê "On The Run" no Recife, será a concretização da décima parceria dele com Dourado. "E ainda tem Floripa...", lembra.
Antes, durante e depois
É como comandar uma pequena cidade, antes, durante e depois da estrutura montada e desmontada. Dourado mostrou uma série de plantas e de gráficos, detalhes de tudo. São 68 carretas com 800 toneladas de equipamentos, entre palco, luz, som, backstage. "Tudo funciona como um box de corrida de fórmula 1. Não podemos pensar apenas na montagem em si, mas na chegada e saída de tanta gente e tantas carretas", explica. Do Recife, toda essa "cidade" se muda para Florianópolis, onde McCartney faz outra apresentação no dia 25 de abril.
A população desta "cidade do Paul" vai contar com 5 mil pessoas no dia da apresentação, contando desde o faxineiro, passando pelo bilheteiro, seguranças, até produtores. "Na equipe internacional são 117 pessoas sempre viajando com o Paul. Fora eles, são outras 1.200 pessoas da produção da Planmusic e Luan Promoções", diz Dourado, citando as produtoras responsáveis por trazer o artista. "A gente ainda conta com os órgãos oficiais, como PM, Polícia Civil, Bombeiros e órgãos de trânsito em geral", explica o produtor.
Catering
Entre as curiosidades da equipe, especialmente o grupo pessoal de Paul, estão os responsáveis pelo catering. São sete pessoas, entre elas o chef, responsável pela alimentação do ídolo, além da equipe de músicos ligados diretamente a ele. "No dia, eles pegam uma van e vão correr os principais mercados da cidade, onde podem encontrar verduras, legumes e frutas frescas, soja, grãos, tudo novinho", lista Dourado. "Eles trazem tudo para o backstage, onde vão arrumar e preparar a comida para ser servida". O ex-beatle nunca pede nada fora do comum, como mil toalhas ou coisas do gênero. "O único fator exigido é a ausência total de alimentos derivados de animais". A regra também vale para objetos que ele vá usar, como estofados de carros ou de móveis do camarim e do backstage: "Nada pode ser de couro ou ligado a material animal. Ele não aceita", diz Dourado.
Para quem está preocupado com o gramado tricolor, um recado da produção. "O gramado vai receber um material especialmente usado nessas ocasiões. É chamado de easy floor, uma cobertura que protege do pisoteio e do excesso de peso. O gramado aguentaria até sete dias coberto, sem que a grama ficasse danificada", afirma o diretor, explicando que o sistema permite a drenagem e a ventilação do gramado.
Em 32 anos trabalhando no show business, Francisco Dourado cita a equipe de Paul McCartney como a mais detalhista e rigorosa das que já conviveu. "Principalmente quando se trata da segurança dele. São 20 seguranças ligados diretamente a Paul, todos receberam o mesmo treinamento e usam táticas de personalidades como o presidente Barack Obama. Por exemplo: eles traçam várias rotas para circulação da caravana. Somente na hora é sorteado o caminho que eles usarão", diz. Todos os homens ligados à segurança foram treinados em países como Israel e Estados Unidos. "Desde a morte de John, aquela coisa bárbara, a segurança é um fator primordial", explica.
Por que o Recife?
De tantas capitais legais para o show, por que o Recife? "As pessoas precisam entender isso. Recife não foi escolhida de uma hora para outra. Queríamos trazer Paul para o Nordeste, mas antes da escolha, o empresário dele, além do diretor financeiro e de infraestrutura, viajaram por várias capitais nordestinas, para estudar a viabilidade", lembra Dourado. "Foram estudados detalhes como a cama do hotel onde ele deve ficar, estrutura, conforto, trânsito da cidade, as rotas de ida e volta. Tudo devidamente medido, fotografado e estudado. O tamanho da cidade e o potencial econômico também foram fatores importantes para a escolha deles", assegura Francisco Dourado.
Sobre isso, a reportagem do G1 bem que tentou arrancar em qual hotel o astro pode ficar. "Prometo a vocês, quando descobrir, eu conto", despediu-se Dourado, pegando o corredor para a salinha escondida e, ainda, calma.
Fonte: G1
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