sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

69 anos do “beatle jardineiro”


George Harrison passou boa parte da vida achando que tinha nascido em 25 de fevereiro de 1943. Até que, em 1992, em entrevista à Billboard Magazine, ele explicou que após a consulta ao Registro Familiar de Nascimento, foi descoberto que ele havia nascido um dia antes, próximo à meia-noite.

George foi o beatle que nos apresentou o Oriente e que, apesar da vida de astro da música, manteve a serenidade durante toda sua vida. O artigo a seguir foi publicado no site Bem Estar e conta um pouco da vida do “jardineiro”, como ele gostava de ser chamado.


Olhos escuros, rosto alongado, expressão profunda. Desde criança George  Harrison tinha esse ar grave, misterioso, depois realçado pela descoberta da meditação transcendental e pelo encontro definitivo com o misticismo oriental. Introspectivo, normalmente calado, George tinha, no entanto, tiradas que desarmavam o ouvinte, reveladoras de um humor no mínimo peculiar. Era tímido também, de uma timidez que podia se confundir com arrogância, mas que, na verdade, escondia boa dose de autoconfiança.



O pai, um ex-marinheiro que se tornou motorista de ônibus só para ficar mais perto dos quatro filhos, tinha o mesmo semblante sério do caçula George. A mãe, professora de dança de salão, era mais expansiva e costumava cantar pela casa e ouvir muitos discos, o que influenciou bastante o filho rebelde. Na escola, George desafiava as regras e usava a gravata ao contrário, um topete moldado com muita brilhantina e sapatos de camurça azul, os “blue suede shoes” do ídolo Carl Perkins. Matava as aulas para fumar nas esquinas e sonhar com o rock and roll de Elvis Presley, que ouviu na casa de um amigo. O filme da sua vida estava para começar.


Foi com esse mesmo amigo que começou a tocar violão religiosamente e fundou a sofrível banda The Rebels, com apenas 14 anos. E nessa época conheceu Paul McCartney no ônibus que ia para a escola. Ficaram logo muito próximos, até que George foi convidado a assistir uma apresentação dos Quarry Men.


Início e fim dos Beatles

John Lennon, o líder do grupo, não ficou muito impressionado com aquele colegial franzino de olhar espantado. Mas bastou que George tocasse uma música para que o líder se convencesse e o “contratasse”. Com o tempo, os Quarry Men ganharam asas e tornaram-se os Beatles, fazendo shows todas as noites, a base de entusiasmo, talento e anfetaminas.


George teve muito a ver com o início criativo do grupo, mas também foi de sua autoria a música que marcou o fim dos Beatles. I Me Mine foi a última gravação feita pela banda, a essa altura (1970) em frangalhos. Paul tentava manter a chama acesa a todo custo; George ressentia-se com a condescendência de Paul; Ringo entediava-se com as constantes discussões; e John não aceitava a rejeição do grupo com relação a Yoko – ele sequer participou dessa última gravação. A letra da canção retratava o espírito perdido do conjunto.


Nos pouco mais de dez anos de existência, os Beatles praticamente estabeleceram todos os novos parâmetros do rock e do pop. George tinha sua cota como cantor e autor em uma ou duas faixas por disco da banda e foi conquistando seu espaço com canções cada vez melhores. Alguns dos maiores clássicos dos Beatles são de sua autoria: a energética Taxman, que abre o Revolver, a bela e singela Here Comes the Sun e Something, considerada por Frank Sinatra “a mais bela canção de amor dos últimos 50 anos”.


Dois momentos nesse período parecem ter sido especialmente marcantes para que George começasse a finalmente ganhar voz própria e libertar-se da sombra incômoda dos egos enormes de John e Paul. Um deles foi quando experimentou LSD pela primeira vez. A experiência transformou sua vida, e parece ter mesmo “expandido sua consciência”, como pregavam os teóricos hippies da época.

O outro foi quando, em 1966, foi com a mulher, a modelo Pattie Boyd, para a Índia, onde ficou hospedado na casa de Ravi Shankar, a quem conhecera numa festa dada pelo diretor e ator Peter Sellers. Iniciaram uma amizade que seria responsável em grande parte pela popularização da cultura indiana no Ocidente. Shankar não apenas lhe ensinou a tocar cítara, como foi decisivo na conversão espiritual do amigo. Foi depois desse encontro iluminador que os Beatles foram à Índia meditar sob os auspícios de Maharishi Maheshi Yogi, um guru de longos cabelos, barbas brancas e sorriso curioso.



Cantor humanitário



Em retrospecto, não parece à toa que George fosse responsável pelo começo simbólico e pelo fim do sonho que embalou todas as gerações a partir de 1961. E que tenha sido também ele, o beatle silencioso, quem fez maior barulho logo após o rompimento, em 1970. O álbum triplo (triplo!) All Things Must Pass, composto de canções que ele represou ao longo de sua convivência difícil nos Beatles, foi um sucesso absoluto de crítica e público. O single My Sweet Lord, um mantra de melodia irresistível, foi alçado ao Olimpo do pop, atingindo o primeiro lugar nas paradas de vários países do mundo, inclusive os Estados Unidos.


E foi com esse espírito que preparou em seguida o grande (e emocionante) Concerto para Bangladesh (1971), país que vinha sendo devastado pela miséria e guerra civil. George chamou os amigos Bob Dylan, Ravi Shankar, Eric Clapton e Ringo Starr, entre muitos outros, e realizou o primeiro concerto beneficente da história, reservando todos os lucros para a Unicef e à causa que tinha abraçado (envolvido com a religião Hare Krishna até o fim da vida, e baseado em seus princípios humanitários, George viria a criar a fundação beneficente Material World).


Lançou mais um disco de enorme sucesso, Living in the Material World (1973), com outro número 1 nas paradas, Give Me Love (Give Me Peace on Earth), e a partir daí sua carreira teve altos e baixos e também uma diversidade de atividades: aprimorou-se na jardinagem zen que praticava, passou a freqüentar corridas de Fórmula 1 e tornou-se produtor cinematográfico, envolvendo-se com o pessoal do Monty Python, grupo humorístico inglês, para quem produziu A Vida de Brian (1979).
George Harrison foi o primeiro Beatle a vir ao Brasil, mas não para se apresentar. George veio ao Brasil para acompanhar o Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1.


Em 1999, num lance bizarro, sobreviveu às várias facadas de um intruso em sua casa – foi salvo pela segunda mulher, Olívia. Antes mesmo desse incidente quase fatal, ele já vinha combatendo um câncer. Sabendo que iria morrer, gravou em 2001, com ajuda do único filho, Dhani, um último disco, Brainwashed, que acabou se tornando um de seus trabalhos mais emocionantes. Com serenidade e leveza, o álbum revela a atitude única de George diante da morte – chega a dar a impressão de que ele canta as músicas sorrindo. Ao fim, ele faz ecoar o mantra: “Namah Parvarti Pataye Hare Hare / Shiva Shiva Shankara Mahadeva”.

Fonte:  Beatles College

Um comentário:

Vanessa Arcarde disse...

Nossa, na primeira foto nem parece o George né? Mudou muito!

Postar um comentário