terça-feira, 29 de novembro de 2011

10 anos sem George Harrison

George Harrison (ilustração: Bagarai)

“Do lado de fora, George não é um mistério, mas o mistério sobre ele é imenso”. Assim John Lennon chegou a dizer sobre o amigo. Enquanto a imprensa o definia como “o beatle tímido”, “o beatle quieto”, e mais tarde, “o beatle espiritual”. Seus amigos mais íntimos desmentiram muito sobre essas imagens, Eric Clapton foi um deles, dizendo que ele era muito falante, humorado, cheio de ideias e curioso.


E foi essa curiosidade que o levou ir além dos Beatles, sendo o primeiro dos Fab Four a buscar influências musicais fora dos padrões ocidentais – a música indiana principalmente. Várias bandas passaram a usar instrumentos indianos, principalmente a sitar em suas músicas. A banda The Moody Blues, por exemplo, chegou a usar vários instrumentos orientais no álbum de 1968, “In Search of the Lost Chord como tambura e tablas e fechavam o disco com o canto do “OM”.
Claro, não foi só a música, também a meditação e a filosofia hindu influenciou milhões de fãs dos Beatles e outros músicos. Eric Clapton em sua autobiografia conta que foi em uma festa na qual estava a nata (sim, o Cream também estava lá) do rock e, regados a LSD, todos no final cantavam o mantra Hare Krishna, inclusive ele, tão avesso ao orientalismo.
A juventude passara a usar batas indianas, incensos, a falar em transcender o “eu”, karma, yoga, chakras, termos ainda não muito populares. Estas influências eram visíveis na meca hippie em Haight-Ashbury, São Francisco (onde George Harrison chegou a visitar com sua esposa Pattie) tanto quanto nos festivais da época – há uma curiosa cena no festival de Woodstock em que pessoas estavam sentadas em posição de lótus recebendo orientação em hatha yoga e houve até uma visita de um sadhu acompanhado de alguns “discípulos”.
Em uma entrevista de George para o Internacional Times, em 1967, mostra como andava sua cabeça: “Somos todos Um. A compreensão da reciprocidade do amor humano é incrível. É uma boa vibração, que faz você se sentir bem. Essas vibrações que o ioga, os cânticos cósmicos e coisas assim trazem são uma viagem. Uma viagem que te leva para qualquer lugar. Não tem nada a ver com remédios. É só você na sua cabeça, a compreensão. Te leva direto para o plano astral”.
Muitas de suas letras falavam em mantras, o verbo OM, de encontra Deus, mesmo em carreira solo. John Lennon, por exemplo, jamais teria feito canções como “Across the Universe” se o amigo George não o tivesse introduzido a vários livros e levado a turma toda a uma palestre do guru Maharishi no País de Gales. E quanto à viagem a índia, ele praticamente ameaçou em sair da banda, caso não fossem com ele.
George Harrison foi o primeiro beatle a viajar à Índia, quando a banda resolveu tirar férias em agosto de 1966, após o show no Candlestick Park, em São Francisco. Lennon foi atuar no filme Como eu Ganhei a Guerra (“How I Won the War”); Ringo Starr juntou-se a ele posteriormente; Paul McCartney ficou compondo a trilha sonora do filme Lua de Mel ao Meio-Dia (“The Family Way”, 1966), com George Martin. “Foi fantástico”, ele comentou. “Eu saía, ia olhar os templos, fazia compras. Viajei por várias partes, fui a vários lugares e acabei indo a Caxemira. Fiquei numa casa-barco no meio do Himalaia. Acordava de manhã e me traziam chá e biscoitos. Eu ouvia o Ravi (Shankar) no quarto ao lado, tocando sitar”.


Quando as tensões entre os Beatles começaram a complicar, George levou Eric Clapton para tocar em uma canção “While My Guitar Gently Weeps”. Clapton foi o primeiro músico de outra banda a gravar com os Beatles; George também traria o tecladista Billy Preston futuramente.
Seus contatos com músicos indianos seriam útil em seu primeiro álbum, uma trilha-sonora chamada “Wonderwall” (1968), no qual fundia música indiana com música pop rock. Seu segundo trabalho era totalmente experimental, “Eletronic Sound” (1968), apenas duas longas peças instrumentais utilizando o sintetizador Moog III, uma novidade na época. George foi um dos primeiros a utilizá-lo no rock.
Harrison também foi pioneiro em concertos voltados às causas humanitários, os dois shows para ajuda aos refugiados de Bangladesh. Idealizado por seu amigo Ravi Shankar, foi o primeiro concerto a juntar grandes astros da música em um único palco. Nele se apresentou artistas do porte de Bob Dylan, Eric Clapton, Leon Russell, Billy Preston, Ring Starr e, claro, George Harrison.
“All Things Must Pass” (1970), seu primeiro álbum não-experimental, em vinil triplo, o levou ao 1º lugar das paradas, vendendo sete milhões de cópias em todo mundo, sendo o primeiro Beatle a fazer sucesso mundial em carreira solo. O disco é considero uma obra-prima do rock.
O trabalho seguinte, “Living in a Material World”, também não fez feio. Mas sua carreira ficaria um pouco obscurecida nos anos subseqüentes, mesmo assim emplacava algum hit como “You”, “This Song e “Blow Away”. Era época também em que George estava preocupado em dedicar-se a jardinagem e acompanhar corridas de Fórmula 1, levando-o a vir ao Brasil em 1979, o que fez ser o primeiro ex-Beatle a visitar o país. É época também do lançamento do livro, “I, Me, Mine”, sendo pioneiro também entre os quatros a lançar uma autobiografia.


1987 foi o ano de seu renascimento musical com o álbum “Cloud Nine”, o single “Got My Mind Set On You” chegou ao topo das paradas acompanhado de um vídeo super divertido. Aproveitando o embalo, um ano depois, monta o Traveling Wilburys ao lado de Bob Dylan, Tom Petty, Jeff Lynne e Roy Orbison. Nem precisa dizer que o supergrupo fez um enorme sucesso.
Em 1999, Harrison quase teve um fim semelhante ao de John Lennon, morrer assassinado. Um maluco perturbado entra na sua casa e o esfaqueia, mas com a ajuda de sua esposa, Olivia, conseguiu dominar o sujeito. Infelizmente, o próximo a tentar levá-lo desse mundo era mais forte do que suas forças. O câncer que aparecera no início da década de 1990 voltou em 2001, quando descobriu que era terminal, atingindo o cérebro.
George Harrison morreu em Los Angeles, aos 58 anos de idade, a 29 de novembro de 2001. Seu corpo foi cremado e suas cinzas jogadas no Rio Ganges. Seu álbum “Brainwashed”, o qual trabalhava, foi terminado por seu filho Dhani e o amigo Jeff Lynne.
George Harrison ficou conhecido pelo seu grande talento musical, mas também pelo respeito que tinha pelas pessoas e pela vida. George sempre foi consciente de seu papel pioneiro nos Beatles, primeiro como guitarrista, depois como letrista, somado à sua enorme curiosidade musical com a qual ele trouxe novos sons para a banda.
Um dia após sua morte, sua família comunicou que “Ele deixou este mundo como viveu: consciente de Deus, sem medo da morte e em paz, cercado pela família”.
Uma das frases que ele costuma dizer era: “Tudo pode esperar, menos a busca de Deus”, mensagem a qual deveríamos refletir sempre.
E em homenagem ao dia, deixo esse vídeo:




Fonte: http://bagarai.com.br/10-anos-sem-george-harrison.html

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